"É a imagem na mente que nos une aos tesouros perdidos, mas é a perda que dá forma à imagem." Colette

quarta-feira, abril 26, 2006

Período sabático...

Estou sem ver pacientes há 10 dias, numa espécie de período sabático. Falo isso, porque férias sem viagem é período sabático pra mim.
Tenho aproveitado para ler muito sobre cuidados paliativos e sobre vida-morte.
Terminei o primeiro da Kübler-Ross e devo emendar o segundo em breve. O grande problema é que eu não consigo ler somente um livro por vez. Leio pelo menos uns três. E o engraçado é que não dá curto-circuito na minha cabeça...
Tenho sentido falta das histórias e dos pacientes...
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Esqueci-me de contar....Nossa paciente que fez 50 anos noutro dia partiu exatos 15 dias após a festa. Já na semana seguinte passou uns dias em sua casa, mas já saiu de lá um pouco ictérica. Quatro dias depois retornou, pois não se sentia muito bem: apresentava fortes dores abdominais e que não estavam sendo controladas com a dose de morfina que estava tomando.
Bem, cinco dias depois entrou em processo de morte. Porém, partiu rodeada de amigos e de seu filho.
(imagem: teto pintado por Marc Chagall, L´Opera de Paris)

quarta-feira, abril 19, 2006

Poesia sem título...

A morte em mim. Alguém (o medo) desce
Uma rua noturna, e de repente
Vê, soturna, no céu, a Lua, e sente
O horror da Lua, e súbito enlouquece.

A morte em cada ser. E alguém (a mágoa)
Que por insone chega-se à janela
Possui a mesma Lua dentro dela
Que em sua carne se transforma em água.

A Poesia em tudo.
E a doçura de não ser mais.
FicaráSentado, na vertente, junto ao rio
Vendo umas nuvens brancas, vendo o rio.

Poesia sem nome de Vinícius de Moraes, in Poesias coligidas, Nova Aguilar, 1998.

domingo, abril 09, 2006

Descanso...

Descansei durante o final de semana.
Volto amanhã para o hospital, logo cedo. Mas é à tarde que me dedico aos cuidados paliativos.
Sei que mais uma paciente nos deixou, aquela que fez aniversário noutro dia. Todas suas vontades foram feitas, incluindo a principal, que era não colocarem nela nenhum tubo para que sua vida fosse prorrogada.
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Estou quase no final do livro de Elisabeth Kübler-Ross, Sobre a Morte e o Morrer.
Para quem não sabe, ela foi uma psiquiatra americana que se dedicou ao estudo dos pacientes moribundos. Não gosto da palavra moribundo, mas é como ela usa. Então transcrevo aqui.
Depois farei um post falando sobre o livro, que é um clássico.
(imagem: cristais de estrógeno, daqui)

quarta-feira, abril 05, 2006

Desamparo...

Devo confessar que fiquei muito abalada com a partida de nossas três pacientes, no último final de semana. Cada uma delas com uma história de vida difícil, tendo em comum a mesma doença.
Fizemos um bom trabalho com elas, assim como com seus familiares, mas a inevitável a sensação de desamparo que eu sinto agora é muito grande...
(Imagem: Kandinsky)

sábado, abril 01, 2006

Eles dobram por ti...


"...No man is an island, entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main. If a clod be washed away by the sea, Europe is the less, as well as if a promontory were, as well as if a manor of thy friend’s or of thine own were: any man’s death diminishes me, because I am involved in mankind, and therefore never send to know for whom the bells tolls; it tolls for thee... "

John Donne


"...Nenhum homem é uma ilha, completa em si mesma; todo homem é um pedaço do continente, uma parte da terra firme. Se um torrão de terra for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se tivesse perdido um promontório, ou perdido o solar de um teu amigo, ou o teu próprio. A morte de qualquer homem diminui a mim, porque na humanidade me encontro envolvido; por isso, nunca mandes indagar por quem os sinos dobram; eles dobram por ti."

(leia tudo aqui, em inglês)
(imagem: Catedral de Notre Dame)
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